Dia do Jornalista é comemorado em meio a mudanças na profissão

O Dia do Jornalista deste ano tem um sabor especial. A expectativa em torno de três temas importantes para a profissão e futuros profissionais faz deste 07 de abril uma data em que o passado, presente e futuro da profissão devam ser motivo de debates e troca de ideias. Estão em jogo as decisões sobre o trabalho da categoria, através da Lei de Imprensa e da obrigatoriedade do diploma, e os rumos que o ensinamento do jornalismo vai tomar, através das diretrizes curriculares debatidas entre uma comissão formada pelo Ministério da Educação.

E foi pensando nesses três assuntos que o Comunique-se conversou com profissionais que possam colaborar para o debate.

Audálio Dantas, jornalista e ex-representante da Associação Brasileira de Imprensa em São Paulo
“Acho que o mais importante a se lembrar nesta data é a questão da Lei de Imprensa. É absurdo que ainda estejamos discutindo isso e mais uma vez a decisão sobre a questão tenha sido adiada. Só o fato de o STF suspender 20 artigos da lei demonstra como é absurda a permanência desse texto regendo as relações de imprensa do País. O Legislativo se omitiu ao longo desses mais de 40 anos e a discussão sempre esteve colocada no Congresso. Uma vez discutida a questão pelo Supremo, espero que tenhamos a oportunidade de ter uma nova Lei de Imprensa. Muita gente prega, o próprio Miro Teixeira faz isso, de que não precisamos de uma legislação específica. Eu, como ex-presidente da Fenaj acho que temos que ter uma lei específica que cuide das relações da imprensa com a sociedade.

Já sobre a questão da exigência do diploma, espero que se decida pela continuidade da obrigatoriedade do documento porque isso é do interesse não só da categoria, mas também da sociedade. Por que a formação não melhoria a qualidade da informação? Pelo contrário, por pior que seja um curso de jornalismo, sempre vai gerar um mínimo de conhecimento. Se na prática a pessoa será um bom jornalista ou não, é outra questão.

Sobre as diretrizes curriculares, todos sabemos que há muitas faculdades que despejam novos jornalistas na praça todos os anos enquanto o mercado não tem condições de absorver. Precisamos que haja uma melhoria na qualidade do ensino, porque ninguém pode alegar que há falhas lamentáveis na formação dos jornalistas. Nessa comissão do MEC estão pessoas mais que capacitadas para chegarem a um resultado que seja ideal ou próximo ao ideal”.

Rogerio Christofoletti, responsável pelo blog Monitorando, que trata do jornalismo
“Acho que estamos vivendo um momento bastante importante para o jornalismo no Brasil, seja pelo que acumulamos historicamente e ganhamos com a evolução da profissão, seja ainda pelas decisões que 2009 deve trazer para a profissão. Os debates em torno das diretrizes curriculares para os cursos de Jornalismo são cruciais para modernizarmos as bases pelas quais as escolas de comunicação se orientam para criar e manter cursos. Mas são vitais também para repensarmos e refundarmos a identidade do jornalista e a função do jornalismo nos tempos contemporâneos.

As decisões que virão do STF este ano - sobre a constitucionalidade ou não da Lei de Imprensa, e sobre a exigência ou não de diploma universitário para a obtenção do registro profissional -, essas decisões vão tornar claros os limites legais para o exercício do jornalismo, mexendo com o mercado e provocando consequências na qualidade dos produtos oferecidos à sociedade.

Mas não é só isso. O Ministério do Trabalho deve concluir em breve um estudo para uma nova regulamentação da profissão. Um grupo de trabalho foi formado e o resultado disso deve ser uma lei que auxilie não só os profissionais e as empresas, mas a população que anseia por informação responsável, de qualidade e com ética.

Vejo com grande otimismo esse momento, independente de quais sejam os rumos que tomaremos. O mais importante é refletir sobre a nossa profissão, discuti-la e reforçar suas bases que desembocam inevitavelmente na função social que o jornalismo deve encarnar. É um momento histórico, e isso não é exagero. Sairemos de 2009 com novas bases para o jornalismo brasileiro. Em poucas ocasiões tivemos tantas definições concentradas num período tão curto”.

Ricardo Kotsho, colunista do iG
“Acho que todo mundo é contra a atual Lei de Imprensa. Uma outra questão é que temos que ter uma regulamentação. Tem que haver regras do jogo para que todos os envolvidos respeitem e sejam respeitados. Nisso entra o direito de resposta, que é uma forma da sociedade se proteger da imprensa. A sociedade também tem seus direitos. O Código Penal é antiquíssimo e também está superado, além de a justiça brasileira ser lenta. Está na hora de discutirmos assuntos mais amplos, uma regra do jogo.

A minha intenção com aquele Conselho Federal de Jornalismo [ele sugeriu a criação do CFJ em 2004, quando trabalhava na Secretaria de Comunicação do governo Lula] era essa. Queria que o Congresso Nacional discutisse. Reconheço as falhas, mas esse assunto precisa ser discutido pela sociedade. Defendo a responsabilização das pessoas e das empresas pelo que é escrito.

O que, a meu ver, pode funcionar é algo nos moldes da OAB. Pode haver um exame de acesso ao exercício da profissão. Qualquer pessoa pode participar. Não sei quem poderia fazer isso, se a Fenaj, a ABI ou um novo órgão.

Hoje não temos motivo para comemorar. Temos que refletir e discutir qual é o nosso papel nessa história. E não debater se o jornal vai acabar ou não. Não importa a plataforma, e sim o conteúdo e a responsabilidade por tudo que é publicado, desde o jornalzinho da igreja até um blog. Devem participar dessa discussão setores organizados da sociedade, para quem prestamos serviço, independentemente da empresa. Temos que pensar sempre pelo conjunto da sociedade. Sempre entendi a profissão assim. Hoje vejo que as pessoas não pensam assim. Sou do tempo em que o jornalista tem compromisso social.

Fonte:www.comuniquese.com.br

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